quinta-feira, 4 de junho de 2009

Restauração Espiritual

Texto-base: Livro de Esdras

1. Introdução

O povo de Israel estava exilado na Babilônia. Esse exílio durou cerca de 50 anos.

Em 538 a.C., reinava sobre a Babilônia o Rei Ciro, da Pérsia, que a havia conquistado. Ciro, movido por Deus (cap. 1), permite, logo no início de seu reinado, o retorno dos judeus a Jerusalém, a fim de que edificassem o templo.

Após muitas dificuldades, com forte oposição dos inimigos de Israel, o templo é concluído em 516 a.C.

Esdras, então, vai a Jerusalém com o propósito de ensinar a Lei do Senhor ao povo (7:6-10). Esdras chega a Jerusalém em 457 a.C., portanto aproximadamente 60 anos após o término da construção do templo.

Entretanto, logo ao chegar, recebe a notícia de que o povo (inclusive levitas e sacerdotes) havia se misturado com os povos pagãos (9:1-2).

Esdras, então, humilha-se diante de Deus e lamenta o pecado de Israel (9:3-15). Outros tantos unem-se a ele (10:1).

Aparece, então Secanias, exortando Esdras a agir e a conduzir o povo de volta à santidade e ao temor do Senhor, pondo fim aos casamentos que haviam sido feitos entre filhos de Israel e mulheres estrangeiras (10:2-12).

O povo, então, atendeu à palavra de Esdras e despediu as mulheres estrangeiras, juntamente com seus filhos, retornando à observância da Lei de Deus e renovando sua aliança com o Senhor. Ali, então, teve êxito a restauração espiritual de Israel.

2. O Processo de Restauração Espiritual

2.1. Identificação do pecado

O objetivo de Esdras ao chegar a Jerusalém era ensinar ao povo a Lei de Deus, assim como ele havia aprendido, enquanto escriba, observando-a em todos os seus aspectos. O seu desejo era muito nobre e admirável, pois, após tanto tempo como escravos, o povo havia perdido quase que de forma plena o conhecimento da Lei, inclusive com a impossibilidade de oferecer sacrifícios, já que não havia templo.

Contudo, Esdras precisou, inicialmente, combater o problema do próprio descumprimento a essa Lei já instalado entre o povo, que se corrompera em apenas 60 anos desde a inauguração do templo, quando o povo havia se consagrado a Deus, inclusive celebrando a Páscoa (6:16).

Percebemos então, irmãos, que o primeiro passo para a restauração espiritual é a identificação do pecado. Isso ocorreu mediante os príncipes de Israel, que contaram a Esdras o grave pecado do povo, que não se conservou como povo santo e separado ao Senhor, conforme Ele ordenara (Êx. 34:10-17 e Dt. 7:1-6).

Não podemos nos arrepender de algo de que não temos consciência. Ainda que peçamos perdão a Deus por nossos pecados ocultos, como faz o salmista (Salmo 19:12), precisamos buscar conhecer nossas falhas para nos arrependermos e mudarmos nosso proceder.

Davi mesmo, aliás, pede ao Senhor que sonde o seu coração e veja se há nele algum caminho mau, a fim de que, identificado o problema, seja este corrigido para, então, o próprio Deus guiar-nos pelo caminho eterno (Salmo 139:23-24).

Busquemos, no Senhor, conhecer nossas falhas e transgressões. Deixemo-nos exortar pelos irmãos e pelos líderes, a fim de que possamos continuar nosso processo de restauração espiritual – que, aliás, tem outras duas fases essenciais.

2.2. Arrependimento e confissão

Não há restauração sem arrependimento. É impossível que alguém mude de rumo sem que, reconhecendo o seu pecado, reconheça também que precisa de uma nova direção.

O pecado precisa causar tristeza em nossos corações, pelo fato de nos afastar da comunhão e da intimidade com Deus (9:15).

Nesse aspecto, a postura de Esdras e, em seguida, de grande parte do povo de Israel foi exemplar. De fato, houve quebrantamento e contrição, pois se humilharam diante de Deus, pedindo perdão pelos seus pecados (9:6-15).

Esdras entristeceu-se de forma tal que chegou a arrancar os cabelos da cabeça e da barba, num ato sincero e espontâneo de demonstração de repulsa ao pecado (9:3).

Davi, no Salmo 32, revela as conseqüências da falta de arrependimento e confissão. O peso da culpa e da mão de Deus corrói os nossos corações. A Palavra ensina que o Senhor disciplina aqueles a quem ama (Apocalipse 3:19). O arrependimento, então, é o melhor caminho para a retomada da vida cristã livre e sadia.

Assim, após identificarmos o nosso pecado, precisamos assumir a postura de Esdras, ou seja, derramarmos nosso coração diante do altar de Deus, clamando por sua misericórdia e seu perdão. O Senhor, que é tardio em irar-se e rico em misericórdia, promete perdoar-nos sempre que, de coração sincero, demonstrarmos nosso arrependimento e confessarmos nossos pecados.

“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9), diz a Palavra. Desse modo, creiamos na misericórdia e no amor de Deus. Não tenhamos receio em derramar nosso coração em sua presença.

O Senhor tem prazer em receber a oferta do coração contrito e quebrantado. A este, diz a Palavra, Ele não desprezará (Salmo 51:17 – salmo em que Davi clama pelo perdão de Deus, confessando seus graves pecados de adultério com Bate-Seba e o homicídio do esposo dela).

2.3. Atitude para mudar

Finalmente, após identificarmos o pecado e nos arrependermos, confessando-o ao Senhor, é necessário dar o passo final para a completa restauração: tomar uma atitude para mudar de postura.

De nada adiantaria que Esdras e todo o povo continuassem ali prostrados, chorando diante de Deus, não fosse a intervenção de Secanias, que, movido pelo Espírito Santo, com muita sabedoria, exortou Esdras a liderar a nova caminhada do povo de Deus.

No caso do pecado que fora identificado (a mistura dos filhos de Israel com os povos pagãos, com os casamentos com mulheres estrangeiras), não havia outra atitude a tomar, senão a proposta por Secanias: os homens teriam que despedir suas mulheres e seus filhos, a fim de retomarem sua aliança com Deus, mediante o cumprimento de Sua Lei.

Secanias, então, entendeu que a restauração de Israel só seria possível caso o povo se levantasse e tomasse uma atitude firme para mudar de rumo, abandonando o pecado definitivamente.

Ele percebeu, como mostra o versículo 2 do capítulo 10, que havia esperança para Israel, assim como há esperança pra você e para mim, meu irmão! Para tanto, porém, não podemos fazer concessões com o pecado. É necessário enfrentá-lo e abandoná-lo. Tirá-lo de uma vez por todas de nossas vidas, por mais doloroso que isso seja.

É comum que nosso processo de restauração acabe pelo meio do caminho. Em geral, conseguimos identificar nossos pecados e, com razoável freqüência, nos arrependemos deles. Sentimo-nos envergonhados diante de Deus e gostaríamos de viver em santidade. Entretanto, em muitas ocasiões, falta esse último passo, que é o da efetiva mudança de postura.

Nem sempre essa mudança é tão radical, como foi nesse caso para o povo de Israel. Todavia, nunca é simples mudar. Abandonar hábitos, vícios e práticas que se tornaram cotidianas é uma tarefa difícil. Basta ver o caso das pessoas que tentam largar a bebida, ou o cigarro, ou as drogas. Nem precisamos ir tão longe: vejamos a dificuldade de quem come demais e luta para perder peso! A luta é imensa, mas é necessária.

3. Conclusão

A grande vantagem é sabermos que, como povo de Deus, temos a sua capacitação para mudarmos de vida. Aleluia! É o próprio Deus quem interfere nesse processo e completa nossa restauração espiritual.

Sem Ele, seria uma luta perdida. Não temos a força necessária para, por conta própria, abandonarmos o pecado e vivermos uma vida santa de intimidade e comunhão com Deus. É o Senhor, porém, quem nos habilita para vencermos.

Identificarmos o pecado; arrependermo-nos; e tomarmos uma atitude firme para mudarmos de vida! Esse é o caminho para a restauração espiritual de que precisamos. Que Deus nos ajude. Amém.